segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Samadhi

Poema escrito por Paramahansa Yogananda (1893 - 1952) descrevendo sua experiência com o estado de Samadhi, ou estado de completa meditação.

Desfizeram-se os véus de luz e sombra,
Evaporou-se toda bruma de tristeza,
Singrou para longe todo amanhecer de alegria transitória,
Desvaneceu-se a turva miragem dos sentidos.
Amor, ódio, saúde, doença, vida, morte:
Extinguiram-se estas sombras falsas na tela da dualidade.
A tempestade de maya serenou
Pela varinha mágica da intuição profunda.
Presente, passado, futuro já não existem para mim,
Somente o Eu sempre-presente, fluindo em tudo, Eu, em toda parte,
Planetas, estrelas, poeira de constelações, terra,
Erupções vulcânicas de cataclismos do juízo final,
A fornalha modeladora da criação,
Geleiras de silenciosos raios X, dilúvios de elétrons ardentes, 
Pensamentos de todos os homens, pretéritos, presentes, futuros,
Toda folhinha de grama, eu mesmo, a humanidade,
Cada partícula da poeira universal,
Raiva, ambição, bem, mal, salvação, luxúria,
Tudo assimilei, tudo transmutei
No vasto oceano de sangue de meu próprio Ser indiviso.
Júbilo em brasa, frequentemente abanado pela meditação,
Cegando meus olhos marejados,
Explodiu em labaredas imortais de bem-aventurança,
Consumiu minhas lágrimas, meus limites, meu todo.
Tu és Eu, Eu sou Tu,
O Conhecer, o Conhecedor, o Conhecido, unificados!
Palpitação tranquila, ininterrupta, paz sempre-nova, eternamente viva.
Deleite transcendente a todas as expectativas da imaginação, beatitude do samadhi!
Nem estado inconsciente,
Nem clorofórmio mental sem regresso voluntário,
Samadhi amplia meu reino consciente
Para além dos limites de minha moldura mortal
Até a mais longínqua fronteira da eternidade,
Onde Eu, o Mar Cósmico,
Observo o pequeno ego flutuando em Mim.
Ouvem-se, dos átomos, murmúrios movediços;
A terra escura, montanhas, vales... oh, líquidos em fusão!
Mares fluindo convertem-se em vapores de nebulosas!
Om* sopra sobre os vapores, abrindo magnificamente seus véus,
Oceanos desdobram-se revelados, elétrons cintilantes,
Até que, ao último som do tambor cósmico,
Transfundem-se as luzes mais densas em raios eternos
De bem-aventurança que tudo permeia.
Da alegria eu vim, para a alegria eu vivo, na sagrada alegria me dissolvo.
Oceano da mente, bebo todas as ondas da criação.
Os quatro véus, sólido, líquido, vapor e luz,
Bem levantados.
Eu, em tudo, penetro no Grande Eu.
Extintas para sempre as vacilantes, tremeluzentes sombras das lembranças mortais:
Imaculado é meu céu mental - abaixo, à frente e bem acima;
Etenidade e Eu, um só raio unido.
Pequenina bolha de riso, eu
Me converti no próprio Mar da Alegria.

Om, vibração criadora que exterioriza toda a criação.

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